terça-feira, 15 de novembro de 2016

Homens do Mar - Joaquim Fernandes Agualuza - 23

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Era pois, minha intenção dedicar umas palavras ao Sr. Capitão Quim da Graça, de quem me lembro relativamente bem, com moradia na dita Avenida dos Capitães. Não só dele, como de sua esposa, Senhora D. Albertina, com quem a minha Avó conviveu, tendo chegado a ir os três para as termas, várias vezes.
O Sr. Capitão Joaquim Fernandes Agualuza, muito conhecido pelo nome de Capitão Quim da Graça, nasceu em Ílhavo, na Rua Nova, em 12 de Janeiro de 1901 (-1983).
Era possuidor da cédula marítima 15291, tendo sido passada a segunda via na Capitania do porto de Aveiro, em 6 de Abril de 1931.
Era filho e neto de pescadores que se dedicavam à pesca de arrasto costeiro (a dita arte de xávega), na praia da Costa Nova do Prado. O seu Pai até teria falecido ainda jovem, em consequência de uma infecção tetânica provocada por uma patada de um boi, no decurso de um arrasto da rede.
O Quim da Graça, nome de sua Mãe, Rosa da Graça, foi um homem modesto, embora austero, por profissão, mas muito carinhoso com a Família, com uma superior paixão pelo mar, vinda de seus antecessores.
Familiar chegado informou-me que começou por fazer o Curso da Escola Náutica, após o qual foi colocado como Piloto da Barra, primeiro na Figueira da Foz e, posteriormente, na Barra de Aveiro.
Poucos anos depois, nas safras de 1923 e 25, comandou o lugre Laura, pilotado por João dos Santos Labrincha (23). Este lugre foi construído em 1921 na Gafanha da Nazaré sob o risco de José Soares. Propriedade da Empresa de Navegação e Exploração de Pesca, Lda., participou nas campanhas de 1921 a 26. Tendo imobilizado em 1927, virá a ser o Cruz de Malta, em 1928, propriedade da Empresa Testa & Cunhas, Lda.
 
Lugre Laura entre 1921 e 26
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Na campanha de 1929, foi piloto estreante, sob o comando de Manuel dos Santos Labrincha, do recente lugre Santa Izabel, mandado construir pela Empresa de Pesca de Aveiro, no mesmo ano.
Na famosa campanha de 1931, – a da pesca do bacalhau nos mares da Groenlândia, continuou piloto do mesmo lugre, sob o comando do mesmo capitão.
Com algumas lacunas de informação e, em tempo de crise, comandou o lugre Ernâni, pertença de Testa & Cunhas, Lda., pilotado por Manuel Gonçalves Viana, na campanha de 1934, ano em que o navio naufragou, pasto de chamas, por incêndio despoletado na fritadeira do fogão. O capitão, ao contar a tripulação na hora do salvamento, deu por falta de um homem – era o mestre, que, no rancho, chorava a perda do «seu» navio, que estava a arder por sua culpa. Lá foi o capitão arrastar o desgostoso mestre, para que uma vida se não perdesse em vão – «estória» oral contada mais tarde por um familiar do mestre.
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Lugre Apollo, em 1921, futuro Ernâni
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Por acta da empresa de 15 de Agosto de 1935, apercebi-me que a empresa ia preparar o Silvina para a próxima safra, em parte, para substituir o Ernâni repasto de chamas. O lugre Silvina, há bastantes anos parado e algo deteriorado, foi reparado, tornando-o navegável, no que foram gastos cerca de 50 contos, importância que não podendo, de momento, ser amortizada, deveria ser levada à conta do respectivo lugre.
Nas safras de 1935, 36 e 37, o Capitão Quim da Graça comandou o lugre Silvina renovado, pilotado, por Alexandre Simões Ré (36) e Manuel Gonçalves da Silva, de alcunha Paroleiro. (37). Na campanha de 38, transitou para o lugre Cruz de Malta, pertencente à mesma empresa, pilotado por Manuel Pereira da Bela (Violante).

Lugre Silvina, em frente à seca
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Lugre após lugre, de três mastros, de madeira, que se deslocavam aos Bancos da Terra Nova e da Groenlândia na quadra mais quente, foi ascendendo de imediato a capitão, tendo-se transferido, posteriormente, para a praça de Viana do Castelo.
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De 1939 a 1951 (inclusive), estreou, no comando, o navio-motor de ferro Santa Maria da Madalena, construído em 1939, nos estaleiros da CUF, para a Empresa de Pesca de Viana.
Teve como imediatos, os ilhavenses Francisco Fernandes Mano (39 e 40), Manuel Pereira da Bela (Violante) (41 a 44) e Armando Pereira Ramalheira (47 e 48). Como pilotos, Manuel Pereira da Bela (Violante) (39 e 40) João Simões Ré (41 e 42), Weber Manuel Marques Bela (47) e Carlos Alberto Pereira da Bela (49, 50 e 51), também nossos conterrâneos.
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De 1952 a 61 (inclusive), inaugurou, no comando, o navio-motor de ferro Rio Lima, construído nesse mesmo ano nos estaleiros Navais de Viana do Castelo, para a mesma empresa. Após a viagem de 1961, transformou para arrastão clássico.

O navio-motor de ferro Rio Lima
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Trabalhou como seu imediato, o ilhavense Manuel dos Santos Malaquias. (53, 54, 55 e 56). Como piloto, o nosso conterrâneo António Manuel de Oliveira Gordinho (53 e 54). Nos restantes anos, quer os imediatos quer os pilotos não foram de Ílhavo. 

Capitão Quim da Graça, em navio de Viana
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Segundo informação do Jornal do Pescador de Maio de 1960, p. 23, na Bênção dos Bacalhoeiros de 1960, a três de Abril, foi condecorado por sua Exa. o Presidente da República Américo Thomaz, com o grau de Oficial da Ordem de Mérito Industrial.
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E de navio em navio vianense, foi vivendo as suas safras, nos mares longínquos e gélidos. Passou a comandar o navio-motor de ferro São Ruy nos anos de 62 e 63, com Francisco Correia Marques como imediato, tendo dado por encerrada a sua actividade marítima.
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A bordo de navio de Viana do Castelo…
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Familiar próximo contou-me que o nome de Agualuza terá vindo de um comentário feito pelo Pai, exactamente com o mesmo nome. Quando na praia da Costa Nova, a rede de arrastar estava a ser puxada pelas juntas de bois, terá dito para os camaradas de pesca: – Hoje a rede vai trazer pouco peixe, porque a água está luza (leia-se luzente). E assim passou a ser tratado pelo  Agualuza.
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Imagens – Arquivo pessoal e gentil cedência de familiares
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Ílhavo, 24 de Outubro de 2016
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Ana Maria Lopes
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1 comentário:

Wesllen Agualuza Pereira disse...

Tem e-mail Para contato? sabe mas sobre a familia Agualuza??
Agradecido: Wesllen Agualuza Pereira